quinta-feira, 1 de março de 2012

Contratempos



  O despertador tocou pela segunda vez, pela função soneca. Miguel pegou o celular que estava ao lado da cama e viu as horas, viu que já era hora de levantar senão ia perder a hora e chegar atrasado. Mas estava um tempo chuvoso, com um friozinho daqueles de não querer levantar e ficar enrolado com um cobertor bem grosso. Definitivamente tinha que levantar. Levantou e já foi falando: "Por que tem que chover logo no dia que eu vou trabalhar?"
  Miguel foi se arrumar, e ao mesmo tempo que se arrumava preparava um café, provou-o e logo cuspiu-o: "Que coisa quente!" Ele havia queimado a língua. Decidiu esperar o café esfriar enquanto escolhia uma camisa e calçava os sapatos. Um problema: suas meias estavam furadas, o seu lindo cachorrinho tinha acabado com elas. "Nossa, tinha que ser!" reclamou Miguel. Foi procurar outro par de meias, mas todos os seus pares estavam sujos, exceto aquele par de meias que apertava seus dedos, esse estava limpinho. Ele não teve escolha, pegou aquele mesmo para usar. Depois de abotoar a camisa, foi novamente tentar tomar café: "Eca! Muito frio!" Naquele momento ele desistiu de tomar café e suspirou: "Hoje vai ser um dia daqueles!" 
  Saiu debaixo de chuva, parecia que tudo estava dando errado. Ligou o seu carro, que era bem simples, e saiu. Com o tempo, a chuva foi se acabando e logo o tempo abriu. Começou a fazer calor, para Miguel, um calor daqueles. Ele já estava sentindo seus dedos serem apertados pela meia. O ar não funcionava mais, o carro já estava bem velho e por isso, mais uma reclamação: "Ah! Que calor! Acho que a chuva era melhor mesmo. Mas esse carro também não ajuda, estou cansado desse carro. Oh meu Deus, por que minha vida tem que ser assim?"
  E assim seguia o dia de Miguel, cheio de contratempos e murmurações. Ele nunca conseguia ver o lado bom das coisas, para ele nada estava bom. Ou estava quente demais ou frio demais. A comida estava doce demais, ou salgada demais, ou insossa demais. As roupas ou eram apertadas demais, ou frouxas demais. Queria ficar sozinho e quando finalmente estava só reclamava por não ter ninguém por perto. Reclamava da casa, dos móveis, dos eletros, da vista ruim da sua varanda, dos vizinhos e da porta que rangia. Reclamava do cachorro por dormir demais e quando ele latia questionava porque o cachorro não dormia. Quando estava de dia, queria logo que chegasse a noite, e quando finalmente a noite chegava, já queria que amanhecesse de novo. Nunca estava satisfeito, sempre reclamava. Dia após dia.

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